Boé ou Red Appropriation

Um corpo morre, todo seu povo se reúne para ritualizar a perda do irriversível. O processo cênico Boé parte do estudo antropológico de rituais de morte e de nossa relação com a cultura e o símbolos do outro, em um exercício de entender, acreditar, exotizar e até mesmo apropriar-se num jogo de colonizar e decolizar o pensamento e o corpo no reconhecimento de fronteiras e, também, na desconstrução das mesmas.

Pesquisa antropológica do ritual fúnebre bororo inspira o texto e atuação

Red Appropriation (Boé) é o primeiro trabalho coletivo do Teatro Faces que caminha com as pesquisas sobre a morte e a escritura construída nos corpos nas mais diversas comunidades. Neste processo cênico, que teve início em 2014, os estudos sobre o ritual de morte Boe-Bororo em contato com o ritual aos mortos dos atores/performers trazem para a cena as potencias do contato, negam fronteiras e reconstroem territórios em um jogo de apropriações e fortalecimento da memória. A escrita dramatúrgica acontece através do corpo, da luz, do som e da imagem e a cena se constitui através de um círculo construído e desconstruído pelo atores/performers como espaço para ritualizarem suas práticas, afectarem e serem afectados.

A luz é produzida pelos próprios atores/performers, onde clarear e escurecer, desenhar e riscar corpos e imagens cria camadas de leitura e fronteiras porosas como a música que se confunde em um jogo de cena entre o que é pré-determinado e o que está tocando nas rádios no momento em que a apresentação acontece. Os corpos vermelhos, buscam uma proximidade com as histórias de ocupação dos diversos territórios indígenas evidenciando o contato presente tanto nos territórios físicos como nos imaginados produzidos na cena ou no imaginário de todos os envolvidos na produção.

  • Estréia2014
  • Dramaturgia e Direção2014
  • ElencoAna Paula Dorst, Kiko Sontak, Darci Junior, Yuri Lima cabral, Wanderson Lana, Néia Lourenço
  • Sonoplastia e projeçãoJeisy Sá
  • IluminaçãoHiago Gonçalves
  • PesquisaWanderson Lana
  • MaquiagemColetiva
  • FotosCamila Vedoveto e Bruna Obadowski

Perfumes frescos como carne de menino. Este verso atravessava minha mente enquanto observo a silhueta humana sem roupa. Uma meia lua revive a zona delimitada para os espectadores que entreven este corpo reconhecível e a sua vez incomum pela cor sensual ocre que o cobre por inteiro. Outras silhuetas emergem da escuridão, revestidas pela mesma cor que ressalta e anula sua desnudez. Sua vunerabilidade se reforça ao fragor de uma motocicleta cavalgada por um adolescente desnudo e ocre. Acende e apaga o motor e o farol potente se destaca e dissolve um grupo de jovens ocres e desnudos, agachados semelhantes ao gado em espera.