Havia, certa vez, na mata que habita o planeta e o peito da gente um curioso animal que não arrisco nome, espécie e nem se quer origem… Movia-se com o vento e no céu dançava. Olhando sua superfície diria apenas se tratar de um desengonçado sujando o céu, mas se mergulhasse veria voo. Com os pés no chão ainda voava e é impossível imaginar um mundo de todos capazes de apontarem o dedo e vociferar em uníssono: as nuvens é ti! A ti! Em ti!
Encontrou um dia um pássaro a enamorar-se de si mesmo num reflexo da água, gostava tanto de si que não caminhava, mas sua confiança lançava interesse e sentidos que não se aprofundava em camadas e desentendeu o animal que desconheço que a imagem que sempre cativa é superfície (Essa palavra de novo)…
– Como posso estar contigo? “Perguntou o animal”
– Seria incapaz de te amar. Sua presença já me cansa. Dormiria aqui agora…. Se ao menos fosse um leão.
Mas o animal não era um leão e passou alguns anos em agonia mimética, na tentativa de ser gostado por um pássaro que derramava seu tempo em atentar-se a si mesmo.
– Já posso estar contigo?
– Seria incapaz de te amar, se tivesse penas claras e compridas talvez gostaria de ti.
E como poderia ser possível tantas coisas físicas que o animal não podia reverter. Parecia que sua presença nunca seria o suficiente. Parecia que a suficiência estava em característica que ele nunca iria ter. Mesmo assim o animal, já condicionado, ficou… não ficaram apenas os anos que se passaram.
– Já posso estar contigo? “Pediu quase em oração”
– Seria incapaz de te amar. Se ao menos você fosse…
– Eu posso ser tantas coisas para que a felicidade te abrace, porém, só serei muito sendo eu. Posso estar contigo assim?
– Temo que não. Se parecêssemos precisaria de uma representação de sua espécie que brilhasse mais e cobrisse das coisas que mereço.
Nesse momento o animal percebeu que não se voltam os anos de devoção à imagem refletida na água, sentiu em palavras as verdades que já sabia.
– Preciso voar… sufocou-se em remorso…
(Continua)