Escrevi agora um poema… coisas especiais acontecem todos os dias.
Domingo de Carnaval sem as crianças
Eu vi o cachorro esperando a criança,
Criança deitada…dormindo,
ignorando a música alta.
É tão bom não estar sozinho, pensei e olhei ao redor:
As cadeiras de plástico, o banheiro químico, o amarelo das lonas brancas da tenda, a bicicleta do menino e o cachorro do menino…
Dormindo…
Sim, ele dormia, largado no chão. Esperando também,
Estava junto ao menino,
devoto,
fiel.
A criança preta no sofá preto,
Embelezando o barulho sem cor do carnaval.
Sozinho de humanos, mas apenas de humanos.
O carro do controle veio, a criança levantou e ao mesmo tempo o cachorro também levantou, caminha trôpego, um magote charmoso de existência.
Fiel.
Amizades são bonitas assim.
Caminhou com ele até o carro o outro ele.
No porta-malas o cachorro e no banco de trás a criança.
Ela quem o alçou,
Com pouca força – era pequeno o menino e grande o cachorro.
A despeito de nós, adultos, que apenas instruímos, muito apontamos e pouco ajudamos.
Gentil, chorou o cachorro com medo de um destino diferente da criança…
E eu não sei o destino,
Para onde caminham,
Qual é o peso da solidão acompanhada.
Só sei que essa imagem me salvou…
Quantos humanos fazem questão de sua presença nos momentos difíceis e choram com a possibilidade de os deixarem passar por isso sozinho?
A criança segue…
Eu também.
Foi como um esbarrão, uma batida….
Uma dessas coisas que mudam a gente.
A criança preta no sofá dormindo com a música alta, sozinha, esperando a ajuda chegar,
E o cachorro fiel em sua brandura formatando o amor,
numa noite de carnaval onde, perdido, comecei a sentir saudades da criança.
A criança que foi no carro
E a que, há muito, partiu do meu peito.
Wanderson Lana
03/03/2019